China tenta frear alta do minério de ferro

Demanda forte no maior mercado consumidor da matéria-prima do aço deve sustentar patamares elevados na cotação até o segundo semestre

A queda nos preços do minério de ferro ontem por interferência do governo chinês pode não se sustentar no curto prazo. Segundo analistas ouvidos pelo Valor, a acomodação na cotação da principal matéria-prima do aço deverá acontecer ao longo do segundo semestre, quando a oferta pela commodity do aço será maior.

Ontem, a cotação do minério de ferro manteve a trajetória de correção vista desde meados da semana passada, refletindo os esforços empreendidos pelo governo chinês para conter movimentos que considera especulativos com a commodity e outras matérias-primas e com o aço.

Segundo a publicação especializada Fastmarkets MB, a tonelada de minério com teor de 62% encerrou o dia a US$ 192,42 no porto de Qingdao, queda de 4,1% ante o preço de sexta-feira. Esse é o menor nível desde 4 de maio, quando a commodity foi negociada a US$ 188,85 por tonelada.

Com a correção vista nas últimas sessões, o minério caminha para zerar os ganhos acumulados em maio. Ontem, a valorização no mês foi reduzida a 1,9%. Em 2021, a alta ainda é expressiva – de quase 20%. Em 12 de maio, atingiu a máxima de US$ 237,57.

Na Bolsa de Commodity de Dalian, os contratos mais negociados de minério, para setembro, recuaram 5,2%, a 1.064 yuans (cerca de US$ 165,46) a tonelada, o menor preço desde 15 de abril.

Segundo artigo do “Financial Times”, a Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento da China (CNRD), agência de planejamento econômica do país, anunciou ontem uma ofensiva fiscalizadora contra monopólios nos mercados de commodities, a disseminação de informações falsas e o acúmulo especulativo.

A declaração do governo chinês reflete suas preocupações cada vez maiores com o aumento de preço das commodities, que vem sendo impulsionado pela recuperação industrial do país da pandemia. A perspectiva de uma retomada econômica mundial vinha alimentando ainda mais a onda de alta nas cotações.

“Acho que há crescentes evidências de um excesso especulativo”, disse Robert Rennie, chefe de estratégia de mercado da Westpac ao FT. Ele vê probabilidade de mais intervenções de Pequim. A demanda maior do que a esperada na China e a volta da demanda mundial têm sido os principais motores da alta nos preços, acrescentou.

Para o analista de mineração e siderurgia do Itaú BBA, Daniel Sasson, mesmo com a tentativa do governo chinês em controlar a vontade dos investidores, os preços do minério de ferro não devem despencar porque os fundamentos que sustentaram a alta neste mês continuam.

“A demanda na China continua alta. E acredito que a maior parte dessa acomodação virá no segundo semestre, que é quando veremos volumes de oferta aumentando.” O preço médio do minério, até ontem, é de US$ 177 a tonelada, segundo Sasson. O analista trabalha com o fechamento para o ano para a commodity em US$ 155. “Acredito que a média pode até ficar um pouco acima dos US$ 155, mas com esse ajuste acontecendo mais no segundo semestre”, ressaltou.

O diretor de estratégia da Belo Investment Resesrch, Rafael Foscarini, também acredita que essa tentativa da China em controlar os preços das commodities não deve ter o efeito esperado.

“A queda mais sustentável na cotação virá com o aumento da oferta de minério de ferro. Preço é oferta e demanda. Deve haver uma acomodação, mas na faixa de US$ 180 a US$ 190. Dificilmente vai baixar desse nível de preço spot, apesar do controle da China”, disse Foscarini.

O principal analista do CRU Group, Erik Hedborg, atribui o rali recente das commodities às notícias positivas quanto à vacinação da covid-19 e pacotes de estímulo em grandes economias, como EUA, que levaram à retomada de consumo mais acelerada do que o esperado.

Entretanto, uma vez que não há expectativa de grande desequilíbrio entre oferta e demanda da commodity agora ou no futuro, não há suporte para manutenção dos preços tão além do custo marginal de produção. “Esperamos que o preço diminua à medida que haja acomodação no mercado”, observou.

Fonte: Valor Econômico (https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/05/25/china-tenta-frear-alta-do-minerio-de-ferro.ghtml)

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